O Retrato de Dorian Gray (The Picture of Dorian Gray)

Aproveitando minha volta e meu ímpeto de escrever, começo aqui a redigir sobre os últimos livros que li, antes que mais uma vez volte a esquecer dos detalhes.

Esse, inclusive, é um dos muitos livros que eu já tinha lido, mas precisei reler para poder relembrar. Não só relembrar, mas também entender melhor sua proposta, já que na minha primeira leitura (que fiz enquanto ainda estava na adolescência) não extraí grande significado dele. Felizmente, também não fui muito influenciado pelas ideias apresentadas (porém não defendidas) nele.

Cortando os comentários pessoais pouco importantes, vamos ao que interessa:

O Retrato de Dorian Gray (1980) é o único romance de Oscar Wilde, que conta a história de um jovem, de nome epônimo ao livro, que mantém sua forma jovem e bela, enquanto um retrato seu recebe em seu lugar as marcas correspondentes às suas ações e ao tempo.

O retrato, pintado por Basil Hallward, assume essa propriedade quando o jovem Dorian lamenta-se da injustiça que é o fato dele envelhecer e perder a beleza enquanto a pintura retém a perfeição de seus traços. O protagonista apenas nota que sua lamúria surtiu efeito quando, após humilhar e rejeitar uma atriz amadora com quem se relacionara, de nome Sibyl Vane, percebe que seu retrato assumiu uma expressão cruel.

A partir de então, Dorian esconde o retrato e passa a viver uma vida hedônica, influenciado por Lorde Henry Wotton, amigo do pintor Basil, que mostra ao jovem as suas “opiniões perigosas”, que o levam aos vícios que gradualmente vão transformando a pintura no retrato de um homem horrível e degenerado.

O desenrolar do romance contém cenas de exaltação da beleza e da arte, suicídio, assassinato, vida na alta sociedade inglesa do século XIX, chantagem, vingança e vícios.

Uma das ideias marcantes do livro é a valorização da beleza e estética, que se dá na figura de Dorian, uma pessoa narcisista, cuja beleza também é elogiada e ressaltada pelas outras personagens do livro, inclusive as masculinas. Esse ponto que revela uma característica pessoal do autor, que era homossexual e cujo caso com um outro homem acabou causando uma condenação de dois anos a trabalho forçado (a homossexualidade era considerada crime naquela  época) e o consequente enfraquecimento de sua saúde, que o levou a morte aos 46 anos de idade.

O personagem de Lorde Henry representa os malefícios que as influências podem causar no caráter de outras pessoas. Inicialmente, Dorian era uma pessoa pura, mas Lorde Henry foi capaz de deturpar os pensamentos do jovem, o transformando na figura horrível apresentada no final do livro.

Outro ponto de destaque é a filosofia hedonista passada de Lorde Henry a Dorian. O Hedonismo é uma escola de pensamento que defende que o homem deve sempre buscar maximizar seu prazer e sofrer o mínimo possível de dor. As ações de Dorian refletem essa forma de pensamento, tendo em vista que elas são motivadas pela busca pelo prazer e pela redução dos aspectos que causam dor ou desconforto, independentemente de suas consequências ou efeito às outras pessoas.

Considerando o desfecho da narrativa, acredito que os pensamentos apresentados ao longo do livro não são defendidos, mas sim representados como destrutivos, apesar do prefácio do livro sugerir que a arte em geral não defende opiniões (“The moral life of man forms part of the subject-matter of the artist, but the morality of art consists in the perfect use of an imperfect medium. No artist desires to prove anything. Even things that are true can be proved”).

Falando nisso, o prefácio do livro expõe uma série de aforismos de Wilde a respeito da arte. Um dos meus favoritos, justamente por fazer referência a uma observação que coloquei aqui no início deste post é: “It is the spectator, and not life, that art really mirrors”.